Sinopse: Dois Exercícios de Ironia, edição crítica e anotada dos textos de Antero de Quental e José de Sena Freitas, explora os contextos e os significados das palavras de ambos os autores e analisa o seu poder de ironia no tratamento dos temas religiosos mais agudos do seu tempo. Segunda edição revista e atualizada.
"Antero e Sena Freitas servem-se de uma dupla negação (negação do dizer do outro), apresentada teatral, enfaticamente. Ambos falam "ao lado" de um dizer primário. Nem Antero verdadeiramente faz a defesa da Carta Encíclica nemnSena Freitas fala contra os Jesuítas. Ambos imitam o ponto de vista de umnactante sujeito que enunciativamente representam. O seu modo de discurso é o do "como se". Tomemos ora o ponto de vista imóvel da Igreja, ora o ponto de vista demasiado móvel do "governo". E cada um transpõe para a cena do discurso tanto a emoção que marca a enunciação, como uma avaliação que se situa no incerto, porque é lá que moram a emoção e o verosímil. De que falam estes textos? Que pleito encenam? Que horizonte de expetativa visam?"
Prefácio, José Augusto Mourão
"No arquivo literário português da segunda metade do século XIX encontramos dois textos breves, mais esquecido um do que outro, cuja singularidade genológica, retórica e temática não pode deixar de nos desafiar. […] Fala-se, em ambos, de matérias então de escaldante atualidade, na vida política e religiosa de Portugal e da Europa. […] Antero reagia com ímpeto à publicação, em 8 de dezembro de 1864, da encíclica Quanta Cura seguida do Syllabus errorum. Sena Freitas respondia na sua intervenção à fase de intensa militância anticlerical dinamizada por republicanos que se sentiam confortados com os progressos obtidos em França pelo laicismo da III República e pelo afastamento dos Jesuítas, em 1880."